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Arquitetos: Ateliers Jean Nouvel
- Área: 7461 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Guillaume Perret, T. Mercadal, Morel Journel
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Fabricantes: Reynaers Aluminium, STACBOND, Schöck
Descrição enviada pela equipe de projeto. La Confluence é uma zona pós-industrial emblemática em pleno centro de Lyon, uma área de reurbanização recente muito representativa do século XXI. Chamado de ‘A Confluência’, o bairro está localizado no extremo sul da península de Lyon, junto às principais infraestruturas de transporte urbano e regional da cidade francesa. Como o principal elementos de conexão entre os diversos distritos da cidade, La Confluence é um lugar de passagem onde convergem milhares de pessoas todos os dias. Mais do que apenas um corredor, a região é um famoso lugar de encontro e socialização, um bairro multicultural com uma atmosfera jovem e vibrante. Neste contexto, o projeto Ycone La Confluence procura adaptar-se à seu entorno ao mesmo tempo que busca definir sua própria identidade, dialogando com os edifícios contíguos à medida que reafirma sua própria autonomia. A abordagem proposta pelo Ateliers Jean Nouvel não se limita às condicionantes do presente, ela entende a arquitetura como um processo em constante mudança — com todos os riscos que isso implica, principalmente em uma área onde muitas das pré-existências estão desaparecendo de um dia par ao outro.
O edifício residencial Ycone é composto por um programa bastante diverso que inclui apartamentos de várias tipologias, pensados para abrigar não apenas um determinado tipo de público, mas uma comunidade o mais diversa possível. Além disso, a torre de apartamentos conta com uma série de lojas no térreo assim como espaços para escritórios frente à ferrovia. Sobressaindo-se em relação aos demais edifícios do entorno, o Ycone não pretende ser um “monumento”: ele se esforça para criar seu próprio contexto, transformando-se em um novo ponto de convergência em La Confluence.
Limitado por edifícios pré-existentes em três de suas frentes, os arquitetos tentaram girar o volume principal da torre, afastando-a de seus vizinhos de forma a criar um intervalo entre eles. Desta forma, o edifício opera como uma espécie de filtro que também beneficia os antigos moradores do bairro. Esta abordagem permitiu ainda afastar o edifício das principais fontes de ruído ao mesmo tempo que estabelece uma nova praça ao redor da base da torre, criando um espaço acolhedor, convidativo e aberto à todos os moradores e visitantes. A partir deste volume inicial junto à rua, a torre desponta como uma sucessão de pequenos jardins e espaços semi-abertos, elementos que fazem a mediação entre o interior e o exterior do edifício.
Em sua altura, a torre foi concebida como uma espécie de mirante para a paisagem, um espetáculo que fala por si só, revelando diferentes camadas a medida que se afasta do centro de Lyon. Em primeiro lugar, a paisagem industrial de La Confluence, passando pelo skyline da cidade até culminar nas montanhas que a circundam. No meio disso há a antiga ferrovia, um elemento que fala sobre a história do lugar, como uma poesia que se intensifica ao longo do tempo carregando um sentimento de nostalgia. Acreditamos que é preciso preservar todas estas paisagens distintas, criando oportunidades para apreciá-las em sua própria beleza, uma harmonia instável e talvez transitória — que faz parte de uma cidade que está em permanente processo de construção.
Graças a sua segunda fachada leve e transparente, o Ycone La Confluence procura mimetizar-se com seu entorno, realçando as especificidades de seu programa complexo — explorando luzes, sensações e obviamente, planos. Respondendo às condições de iluminação e ventilação de quatro orientações diferentes, as fachadas do edifício se revelam de distintas formas em suas composições e materialidade.
É como se tivessem dois edifícios em um só. O edifício oferece apartamentos a valores mais baixos assim como a possibilidade de dois apartamentos serem vendidos juntos — algo que às vezes acontece — mesmo que não sejam complementares por assim dizer. O que procuramos responder através desta abordagem são questões para as quais ainda não há respostas. O arquiteto é como um diretor de cinema, ele precisa criar um roteiro, uma narrativa que faça sentido para quem mora ali.
As fachadas foram então projetadas duas à duas, criando respostas diversas e complementares ao seu contexto e condições climáticas específicas. Os apartamentos se encaixam neste ponto médio, definido e orientado segundo as determinantes do terreno para melhor acolher os moradores em todas as suas atividades diárias. A fachada dupla cria uma sobreposição de planos que proporciona mais profundidade à estrutura do edifício. Isso pode ser visto como uma espécie de desequilíbrio, mas obviamente não é. É um espaço entre, onde parte da vida das pessoas acontece, um ambiente que se adapta à elas. Como resultado disso, a forma como o edifício se revela para quem o vê de fora vai mudando, de pavimento à pavimento, dia após dia, contando uma nova história que nunca deixa de ser escrita.